quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A lenda das sereias

Parecia uma excursão pela imensidão do mar.
Ele me explicava que, como punição, elas eram amarradas num emaranhado de cordas e correntes de tal forma que seus membros ficassem totalmente colados ao corpo, formando uma silhueta de cauda de peixe.
Eu, dentro do mar, sem saber onde estava a superfície, ouvia a voz explicando o que eu via lá de baixo.
Elas eram amarradas e jogadas vivas em alto mar com a intenção de que pagassem por seus erros.
Desesperada, ela se debatia, lutava, se afogava.
Porque sereias?
Exatamente neste local havia paredões enormes de pedras, com fendas e cavernas.
De uma destas cavernas saia um polvo enorme. O tão famoso “carrasco do mar”.
Ele foi em direção a ela e a envolveu com seus tentáculos.
E, não sei de que forma ele continuava a nadar enquanto ela se debatia.
Enquanto a devorava.
Da superfície se via apenas uma bela silhueta. A silhueta de uma sereia.
Ela, devorada.
Estaria eu também acorrentada?
Ele ria.
E eu, desesperada
Me debatia, lutava, me afogava.
Devorada.
(2008)
SSSSS!
Silêncio!
SSSSSSSS!
Eu disse: Silêncio!
Mas ninguém fala.
Ninguém ouve......Nada!
E eu?
SSSSSSSSSSSSSSSS!
Silêncio!
Silêncio!
Quieto.
Escuta.
Presta atenção. Você tem que ouvir!
Não pode ser só eu...
SSSSSSSSSSSSilêncio!
Não existe silêncio?
Ele zumbe! Ele grita!
Aqui dentro.
Ei! Ei você!
Você não ouve?
Eu quero silêncio.
SSSSSSSSilêncio.
Por favor, silêncio!
Me escuta!
Pára!
Silêncio.
Eu não consigo ouvir.
Silêncio.
Por favor, pára.
Eu quero silêncio!
Silêncio.
Não fala!
Não grita!
Me ouve!
Por favor, pára!
Silêncio....
SSSSSSSSSSSSSS.
Entre dores, felicidades e confusões.
Ela cresce,
Desenvolve,
Muda.
Quem é ela?
É outra pessoa.
Ela cresceu
Ainda cresce.
Ela grita.
Bonita? Não sei, mas ela cresce, desenvolve, muda.
É melhor agora, mas é confusa.
Sabe onde pisa, mas às vezes não encontra o chão.
É intensa.
Ela vive.
- Não sei que lugar é esse
- Mar cada vez mais
- Ondas gigantescas
- Pessoas se afogando
- Todos os meus colegas em uma poça d’água enorme
- Todos mortos
- Minha culpa
- Nós em um ônibus – Boiando no mar
- Você senta em um banco do ônibus ocupando todo ele para que eu não pudesse sentar
- Eu te amo. Você, eu acho que não. Mas você sabe.
- Me ignora
- Conversa com ele
- Beija ele
- Sinto dor
- Falta de ar
- Ódio
- Ela vê vocês
- Ela sabe o que eu sinto (não sei quem é ela)
- Me conforta
- Eu não sei quem ela é.
- Ela sabia, mas escondia.
- Fazia de conta que nada acontecia.
- Acobertava.
- Ou participava?
- Eu pedia socorro
- Ninguém acreditava
De um extremo a outro
Sem conseguir administrar sentimentos
Sem conseguir impedir a explosão ou a quase morte dele.
Daquele que bate, que vibra, que ama, que dói e que sofre.
Sofre não só de maus sentimentos.
Sofre, também, de felicidade, de amor, de vida.
Sofre porque sente demais e de menos
Da vida à morte
Do amor ao ódio
Oscila...
De um extremo a outro